Nos últimos anos, a Inteligência Artificial tem sido testada até mesmo em um dos territórios mais humanos: a psicoterapia. Com o crescimento de plataformas que simulam sessões terapêuticas por meio de algoritmos, como o ChatGPT, surge uma reflexão essencial: é possível substituir o espaço clínico por respostas automatizadas?
Em artigo publicado na Folha de S.Paulo, o neurocientista Álvaro Machado Dias levanta um alerta importante: algoritmos não são autênticos nem espontâneos, não compreendem a linguagem do corpo, os silêncios, nem carregam a memória afetiva necessária para revisitar falas importantes de sessões anteriores. E, sobretudo, não oferecem a presença emocional essencial ao processo terapêutico — especialmente à construção de vínculos transferenciais, onde paciente e terapeuta se implicam mutuamente no caminho do cuidado.
Na clínica, o que cura não é apenas o conteúdo da fala, mas a escuta sensível, a presença segura e o vínculo confiável. Psicólogos e psicólogas dedicam anos ao estudo das teorias do psiquismo humano, ao desenvolvimento da empatia clínica e à escuta ativa. Esses elementos não são automatizáveis. Eles se constroem na relação, na singularidade de cada encontro, na história única de cada sujeito.
Ainda assim, questiona o autor, por que tamanha popularidade de sistemas automatizados? Seria a tecnologia um novo fetiche? Estaríamos ritualizando uma relação mais rápida, sem o desconforto que o encontro humano muitas vezes provoca? Esses pontos merecem análise crítica, pois podem indicar não apenas inovação, mas também uma tentativa de silenciar o sofrimento com respostas prontas.
A psicoterapia, por sua vez, não entrega respostas — ela acolhe perguntas. É um processo artesanal, ético e profundo. A psicóloga Helena de Oliva reforça que, mais do que resolver, o processo terapêutico cuida, acompanha e sustenta as incertezas e dores de quem busca ajuda.
Referência:
Conteúdo adaptado do artigo publicado na Folha de S.Paulo, coluna de opinião.
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